Nunca é fácil lidarmos com nossas perdas. Sempre que falo sobre esse tema, lembro-me de um professor que falava sobre desapego. Dizia que, na verdade, o nosso apego é que gera nosso sofrimento. Porém logo olhava novamente e dizia que aquilo era fácil dizer. Mas como um mãe que perde seu filho pode praticar isso?
As perdas nos doem quanto maior a intensidade de nossa ligação emocional com aquele objeto perdido. Normalmente pensamos que devemos esquecer, que devemos superar e assim nos desapegar. Mas esse esquecimento não é desapego, e sim uma negação. Na verdade, o que nos falta para lidar com esse sofrimento é a conexão.
Temos falta de conexão com a natureza, com o momento presente, com a nossa vida. Essa desconexão da vida nos leva a dar importância a coisas supérfluas e esquecer coisas importantes. Esquecemos que tudo no Universo se transforma, que nossa energia está conectada com todas as coisas e que, de fato, nunca perdemos nada.
Se não acredita no que estou dizendo, vou exemplificar para você. Achamos que, ao perdermos uma pessoa que amamos, ela desapareceu. Porém ninguém nem nada no Universo desaparece. Se estivéssemos conectados com nossa natureza, perceberíamos que a pessoa continua vivendo, sua energia está nas árvores, no ar, em nossa mente e em nosso coração.
A Física nos diz isso que nada desaparece, mas sim se transforma. Nesse aspecto, os seres não morrem, e é por isso que se diz que, no budismo e em outras tradições hinduístas, a morte é uma ilusão. Essa ilusão ocorre porque estamos atarefados em nossas demandas, distraídos com nossos objetivos, ocupados demais em olhar para o futuro, sem perceber o único tempo real, que é o agora.
Não precisamos ficar sempre com nossa mente distraída. Podemos parar, olhar para nosso interior, contemplar o céu que nos rodeia e a nossa vida. Observar nossa realidade nos gera conexão com nossa natureza. A verdade é que não vivemos sem o mundo a nossa volta, ele é parte de nós. A vida existe em conexão, e não desconectada.
Podemos ter o engano de olhar o mar e achar que vivemos separados dele. Mas, na verdade, a vida marinha mantém nossa vida na terra. Está interligada. Da mesma forma, quando alguém falece, sua essência não desapareceu, e sim se transformou. Assim como as coisas no planeta têm um ciclo, a vida também é assim.
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Aquilo que termina, na verdade, origina outra coisa, como um ciclo interminável da mesma energia que se conecta a este planeta. Pode parecer que estou falando de algo muito espiritual, mas, na realidade, só é espiritual para a pessoa que ainda não contemplou a vida. Se a pessoa não contempla a vida e a interdependência das coisas, ela acha que há um Universo oculto e misterioso. Ela não entende essa relação.
A interdependência está em todas as coisas. Não vivemos sem os rios, sem a terra e sem o céu. Olhamos para uma floresta e podemos ver apenas madeira, mas lá habitam incontáveis seres que equilibram a nossa vida. Ao destruirmos uma floresta, sofreremos as consequências iguais às de uma pessoa que fumou muito durante anos. Ela tem dificuldades em sua saúde.
Até mesmo uma empresa está relacionada com o meio, com o ambiente, com um mercado e com diversas coisas que a afetam. Se contemplarmos a vida com esse olhar, não teremos mais medo de perder as pessoas, pois sabemos que estamos sempre em conexão com elas. Jamais estamos separados, porque simplesmente não é possível.
Sim, temos nossa individualidade, de olharmos para nós e acharmos que temos nossos gostos, pensamentos e opiniões. Mas é um engano acharmos que estamos separados. Assim como quando olhamos o nascer do Sol. O Sol, em verdade, não nasce, mesmo que nos dê essa impressão. Em suma, não temos uma individualidade, mas sim uma percepção de um sujeito que é atravessado e que está conectado e em uma relação de interdependência com o meio.
Somos o planeta. Quando uma pessoa falece, ela não deixa de ser o planeta, mas assume outra forma e posição nesse planeta.
Claro que entender isso não irá lhe tirar a dor de perder um filho, um marido, uma mãe ou quem quer que você tenha perdido. Mas essa dor é a conexão emocional que você tinha com essa pessoa. É a prova de que ainda ela vive. Não precisa negá-la, pois assim você a transformaria em sofrimento. Abrace seu momento de dor e entenda que essa pessoa não se foi, mas se modificou. Ao entender isso, entramos em conexão com a vida, com a dor e com a capacidade de nos desapegarmos do sofrimento.
A dor é inevitável, mas não precisamos do sofrimento. Podemos nos conectar às emoções que nos mostrarão que a vida é muito maior do que comprar e ver TV. Somos muito mais amplos que apenas isso. Conecte-se com sua vida.
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