No meio desse caminho espiritualista, criamos muita confusão com as nossas sensações, crenças e intuição. Às vezes, não sabemos discernir qual voz é a da alma e qual é a da cabeça. Daí, entramos em conflito. Separar as duas coisas costuma ser uma tarefa desafiadora e exige bastante discernimento no processo.
Quem cresceu no meio cristão, já deve ter ouvido a frase de Salomão: “O coração do homem é enganoso”. Muito foi construído em cima disso e, infelizmente, fomos doutrinados a não acreditar em nosso coração, como se ele nos enganasse. A verdade é que, na época de Salomão, discernir entre vontade, excitação, empolgação e anseio da alma, não era algo fácil de se fazer. E ainda não é, mesmo nos dias de hoje.
Ao mesmo tempo, embora esse rei tenha ganhado o título de “homem mais sábio”, teve seu império e vida desmoronados por causa de suas paixões e concupiscências carnais. Segundo a história, ele tinha setecentas esposas e trezentas concubinas. Mesmo assim, acabou se interessando por mulheres de outros reinos e corrompendo sua fé e política israelita. E percebemos que ele não estava tão certo de determinadas coisas que dizia. E como todo ser humano, também tinha suas fraquezas, com as quais não soube lidar a partir da leitura que tinha daquilo que ele mesmo sentia.
Então, quando Salomão diz que o coração do homem é enganoso, ele definitivamente estava falando de paixões, vontades, excitações humanas passageiras e momentâneas, e não daquela voz que vem da alma.
E sim, podemos querer muitas coisas que nos farão mal, podemos sim ser confundidos por nossos desejos e vontades e acabar caindo em enrascadas por causa deles. Mas nada disso vem da alma, e sim de nossa parte instintivo-emocional, que reage às experiências lá fora. A alma é onde Deus fala puramente, é o canal da comunicação da consciência cósmica conosco. Essa voz nunca se engana. A gente diz que Deus fala no coração, mas não é o órgão coração, e sim no peito, no centro do peito, que é “onde” a alma nos faz sentir sua presença, sua essência, de maneira mais contundente. E através de sensações e sentimentos, ela se comunica conosco.
E isso não tem nada a ver com quaisquer vontades, impulsos emocionais ou quereres passageiros, tem a ver com essência, identidade divina, pois essa nunca falha. A cabeça é a voz social, astral coletivo, é o conjunto de princípios, valores e crenças que foram passados para nós. Definitivamente, a mente nunca foi a melhor conselheira. Nossas emoções por melhores que sejam, também não. Porque emoção é reação, portanto, passa. Já sentimentos da alma, impulsos do centro do peito, são inspirações da consciência da centelha.
Sabe aquele sonho que quando você pensa nele dá uma coisa tão gostosa no peito? Tipo um encaixe? Uma paz, como se aquilo te preenchesse e te proporcionasse plenitude? Pois bem, essa é a voz da alma, do coração. Igualmente, o contrário também acontece, o peito pode fechar, dar uma angústia, tristeza, como se algo estivesse se contraindo e dizendo “não”. Esse é o “não” do coração. Esse é o “Não” de Deus em você ou o seu para Ele.
Se quisermos nos dar bem nessa vida, precisamos aprender a ouvir a voz do coração. Quando ela se manifestar dando plenitude, siga isso. Do mesmo modo, se a sensação for ruim, respeite. Deus fala nas sensações, pode se manifestar tanto em sentimentos profundos como em emoções repentinas. Preste atenção ao que você sente. Está sendo provocado por algo pensado meramente ou será que é Deus tentando te dar respostas?
O coração do homem não é enganoso, a mente é e, vez ou outra, emoções instintivas e reativas também podem ser. É preciso se observar muito para saber ler o que suas sensações te dizem. E isso requer exercício diário, porque aprendemos a seguir a voz do Juiz mental que alimentamos em nós, cujas regras são passadas de geração em geração. Mas só somos felizes quando nos guiamos pelo que o coração (alma) diz. Porque é lá que a verdadeira vontade de Deus (anseios do nosso espírito) se revela.
Quem segue a voz de sua alma, certamente trilhará caminhos de felicidade e realizações. Lembrando que somos únicos. A voz da minha alma não é a mesma da sua, as coisas que me fazem feliz podem não ser as mesmas que farão você feliz. Seu trabalho é descobrir o que faz sentido para você, seu trabalho é aprender a ouvir a voz de Deus, mas não lá em cima (na cabeça), e sim embaixo, no peito. Preste atenção nesse pulsar interior, comece a praticar a arte de ouvir a voz da centelha e, tenho certeza, você terá ótimas inspirações, sensações e orientações. Porque a alma sempre sabe o que diz.
Que o Amor nos cure!
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