Eu já falei sobre narcisismo, então não vou entrar em detalhes, mas, resumindo, narcisista é aquela pessoa que tem um traço de personalidade narcísica, ou seja, só se importa ou se interessa por si mesma. É uma pessoa geralmente mais fria, cujos sentimentos são alicerçados na razão. Elas pensam, não sentem, e assim não conseguem, via de regra, manter relacionamentos saudáveis, a não ser que se tratem e consigam dominar a personalidade. Dentro deste quadro existem, ainda, os narcisistas perversos, ou seja, aqueles que usam da perversidade nos relacionamentos. Que são abusivos, incomodam, criticam exageradamente e sempre colocam a culpa de tudo no outro. É destes que eu gostaria de falar.
A grande pergunta é: essas pessoas conseguem de fato amar? Bem, se o maior amor da vida de um narcisista perverso é ele mesmo, é difícil. Não é que não existam expressões amorosas, mesmo porque o amor é mais forte do que tudo, até mesmo que a morte, então eles até conseguem. Mas é um amor que fica neles. Não é um amor de se importar com o outro, é um amor ensimesmado. Um amor que julga precisar do outro, mas nunca devolver, a não ser que tenha um porquê.
O narcisista perverso é especialista em chantagem emocional. Ele dá, mas ele pede o dobro, triplo e nunca dá de mão beijada. Ele cobra, ele fala, ele usa, ele joga mesmo na cara até não querer mais. Nas relações amorosas, tema deste artigo, isso fica um jogo extremamente nocivo para o outro.
São pessoas que não medem as palavras e cujo “desculpar-se” vira uma rotina. Eles falam porque não sentem. Não existe uma empatia real, “se eu disser isso a pessoa pode se magoar”. Isso porque, para eles, só existe, de fato o próprio sentir. Mas o sentir deles não envolve o outro. É como se o outro fosse um “mal necessário”. Para que eu ame, eu preciso amar algo, então eu finjo. Um fingimento tão profundo que chega a parecer real para a outra pessoa.
Narcisistas se apaixonam pelas próprias ideias. Uma ideia de um amor ideal, de um amor impossível ou de um amor de novela, o que parecer dar mais ibope. Quando ele vira realidade, está instalado o inferno. Ele exige, exige e exige mais um pouco, como se nada fosse o suficiente. Usa de artimanhas e deixa claro que precisa de provas cada vez maiores. Ri, secretamente (ou às vezes abertamente), de ter machucado o outro. Sabe quais são os pontos fracos porque analisa profundamente suas vítimas, e usa isso quando e se necessário.
Depois finge o contrário, em um jogo doente e que caracteriza a perversidade. Chega doce, elogia, se coloca junto ao outro. Como já tem a análise completa, sabe como reconquistar. Chama de novo, fazendo que a pessoa fique presa em um elástico que só ela controla. Se está a fim, puxa para si. Senão, joga longe.
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O jogo permeia esse tipo de relação que geralmente não termina bem. O narcisista precisa de aprovação constante, tem a autoestima baixa e um complexo de rejeição imenso. Está sempre exigindo parecer perfeito. É o casal perfeito, que não briga na frente de ninguém e que tem muitas fotos falsas no Facebook. Pode até sentir ciúme, mas geralmente é um ciúme fingido e vazio, muito mais preocupado em perder o objeto do seu jogo do que o amor do outro. Ele simplesmente não admite a possibilidade, mesmo que remota, que o outro deixe de amar.
Quem é vítima estará sempre sob vigilância. Ele fica à espreita, colecionando relacionamentos que voltam de tempos em tempos. Não quer ninguém, só a si mesmo. Quando faz questão de um par, é mais para mostrar que tem e que é completo e socialmente aceito.
O narcisista perverso precisa ser aceito pelo meio e paga qualquer preço para isso. Mesmo que o preço sejam as suas relações, principalmente as afetivas. Apaixonados pelas ideias como são, dificilmente estão felizes com o que tem. Sempre sentirão uma falta, um vazio que não consegue ser preenchido.
Relações abusivas podem ser relacionadas com narcisistas perversos, mas saiba que eles nunca fazem nada que possa colocá-los em risco. Não são os narcisistas que matam por amor, por exemplo, já que é tudo meio frio demais e isso os prejudicaria. Eles não costumam agredir fisicamente porque isso não é socialmente aceito e poderia causar problemas para eles mesmos, ou seja, se causar problemas para ele, ele está fora.
Se você conhece alguém assim, repense a possibilidade de uma relação. Eles podem ser muito persuasivos, principalmente quando querem conquistar, mas depois você vira propriedade. Então, para não se machucar, analise friamente a situação. Depois de instaurada uma relação assim, o contato zero é uma das melhores alternativas para cancelar o efeito deles sobre você.
Se você se reconhece como um narcisista perverso, saiba que eu sei que isso é um enorme sofrimento. Mas eu acredito na mudança do ser humano e que todos podemos ser felizes, se realmente decidirmos por um processo de mudança interno. Eu já vi narcisistas perversos melhorarem, então sim, é possível. Procure ajuda caso não consiga lidar com isso sozinho.
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