Eu tenho uma confissão: eu assisto Big Brother Brasil. Não, nenhum outro, só o BBB mesmo, aquele da Rede Globo e só. Já até tentei acompanhar outros, mas acabo enchendo e não consigo continuar. O BBB me ensina sobre a vida. Sim, e sei que estou chocando os intelectuais de plantão. O que seria mais interessante para uma pessoa que estuda o comportamento humano do que um programa que confina gente lá dentro e os faz fazer e dizer coisas que, com certeza, não diriam ou fariam em outras situações. É o extremo do extremo. Acredito que as pessoas saiam transformadas de lá. Pude ver o Marcelo Dourado, vencedor da versão 2010, se transformando de um troglodita agressivo para uma pessoa que até conversava com os outros antes de soltar as suas feras, relativamente normal (e meu normal está sempre em aspas porque eu não acredito em normalidade absoluta). Vi pessoas que pareciam muito uma coisa, se mostrarem completamente diferentes, muitas máscaras caindo.
Enfim, em 10 edições eu vi muita, muita coisa diferente. E o que isso tem a ver com a vida? Tudo. Sempre encarei o BBB como uma mini vida dentro da vida. As pessoas choram quando o outro vai embora como se choraria por um ente querido que falece. Em algum tempo, as pessoas começam a viver só o que é aquilo lá dentro. Esquecem que existe aqui fora o que as pessoas chamam de vida real. Ué, não é real enquanto está acontecendo? Não é real enquanto você dorme e acorda todos os dias com as mesmas pessoas?
Um exemplo que achei interessante: Dicésar, maquiador e drag queen, ao final do programa resolveu se aliar à Fernanda, dentista. A mulher fez que fez que o convenceu de que ele deveria ir para o paredão enviado por ela e, por consequência, com Dourado como opositor. No final, como era de se esperar, ele saiu. Mas até o momento do Bial dizer que era ele que estava fora, ele ainda achava que ficaria. Não ficou. Não percebeu a coisa toda bem debaixo do seu nariz.
E não é assim o tempo todo na vida? Quantas e quantas coisas que nós passamos e, no momento em que estamos passando por aquilo, não nos damos conta? Só depois, pensando melhor é que as coisas começam a fazer sentido. É como uma premonição que acontece conosco, mas não percebemos porque estamos tão envolvidos que não conseguimos. Estes dias mesmo recebi um e-mail de uma leitora falando sobre os recados que ela recebe do Universo. Disse que, antes do fim de namoro, ela recebeu vários avisos. Até mesmo um sonho em que lhe diziam que o seu namoro iria terminar ela teve. Mas, não acreditou neles porque estava envolvida e não queria ver. A isso, nós chamamos de resistência. Nós temos resistências em enxergar as coisas da nossa vida seja porque é muito dolorido, seja por medo. Na realidade, é quase sempre o medo de sofrer que nos faz cego. Olhamos para a situação, todas as pessoas te dizem aquilo, o Universo te dá milhões de toques e mesmo assim não enxergamos.
Quando o Dicésar foi ao programa Mais Você no dia seguinte à sua eliminação já se mostrava arrependido. Percebeu que não deveria ter ido com o Dourado e sim, com outra concorrente, a Lia. Achei interessante porque se pode perceber o insight dele ali, ao vivo. Ele pensando e conseguindo fazer com que a mente dele entendesse isso. Ele entendeu.
E a culpa e o arrependimento, o que fazemos com isso? Não é muito fácil porque mexe com o nosso orgulho. Orgulho ferido é a pior coisa para o ser humano. Percebemo-nos frágeis, usados, ludibriados e aí dá uma vontade louca de vingança ou de sair correndo e se esconder no recôndito do mundo, no buraco mais fundo que pudemos encontrar. Complica muito a vida, mas, se deixarmos que isso nos pegue, são anos para nos recuperarmos.
Dimmy, o apelido de Dicésar, não deixou o orgulho falar mais alto. Percebeu o seu erro, fez uma cara de arrependido, mas no outro dia estava junto com todo mundo comemorando o final de mais um BBB. Com ou sem o prêmio, a vida está aí para nos ensinar. Ensinar que somos humanos, que nos deixamos sim, levar em algumas ocasiões e que, principalmente, errar não é pecado. É só mais uma etapa para o nosso crescimento.
O BBB10 acabou. Talvez tenha um próximo em 2011. Mas a vida continua. E é com ela que precisamos nos sentar e encarar nossos medos, raivas, frustrações. Porque quando sairmos daqui, nada disso vai com a gente. Quando formos eliminados no paredão da vida só vamos levar a experiência de ter sido autêntico e cometido nossos erros. Sem orgulho nem vaidade. Sendo apenas normais.
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