Buda, por onde passava costumava fazer o seguinte discurso aos que o ouviam: meus caros amigos, olhem para seus corpos, este é o corpo que vocês ocupam hoje e este corpo possui um rosto. Este é o seu rosto hoje!
Em sua última encarnação você também possuía um corpo e este corpo possuía outro rosto. Na sua penúltima encarnação acontecia o mesmo, pois você também possuía outro corpo e outro rosto.
Há muitas vidas atrás, quando você teve sua primeira encarnação você também tinha outro corpo e outro rosto, vocês não lembram isso, mas sempre tiveram corpos e rostos diferentes. Mas eu lhes pergunto - antes de vocês encarnarem pela primeira vez, quais eram seus corpos e seus rostos? Vocês tinham algum corpo e algum rosto?
Conta a história que ninguém se atreveu a responder essa pergunta e, ouso dizer que hoje em dia nós também não saberíamos responder. Na minha percepção, a grande dificuldade gira em torno do nosso excessivo apego ao mundo material que nos cerca. Infelizmente, ainda hoje são raros os indivíduos que conseguem perceber a vida como algo além do universo físico e, em decorrência disso, são ainda mais raros os indivíduos que optam por viver por aquilo que é eterno em nós: o nosso próprio EU!
As coisas se tornarão mais fáceis à medida que identificarmos que o nosso EU não é este corpo, não é este rosto, tampouco as coisas materiais que eu julgo possuir. Como pode ser meu, algo que um dia eu terei de deixar?
Como pode fazer parte do meu EU algo que é tão transitório quanto à vida no mundo material? Todos nós temos ou já tivemos algum dia um breve vislumbre intuitivo de que algo além do corpo deve animar a vida, de que a existência é bela demais para ser um fenômeno puramente material. Mas o que é esse algo além? Será que o perdemos?
Por sorte, ninguém jamais perdeu o seu EU, a questão é que com o tempo nós deixamos de ouvir a voz da vida que ecoa em nós para servirmos aos diversos sistemas culturais, políticos e religiosos. Sistemas, estes, que não possuem outra função se não o de desviar o nosso foco daquilo que mais nos importa: o nosso EU.
Buda em seu discurso - antigo, mas muito aplicável aos dias atuais - vem nos alertar sobre o nosso modo mecanicista de ver a vida, de acharmos que a vida se resume a posses, títulos e teorias.
Mas não é necessário sair do lugar onde estamos para enxergarmos o milagre que a vida é! Na verdade, o único requisito necessário é o silêncio. Este é o grande segredo ensinado pelos grandes mestres, o de que você não pode encontrar a essência da vida nas tribulações da vida material, mas criar condições interiores para que a vida o encontre na paz do silêncio, na entrega ao amor, na fluidez da contemplação, na total entrega e confiança ao amor que a vida tem por você.
Essa é a diferença; por sermos falhos em nosso modo de ver a vida, fazemos um grande esforço externo na tentativa de adequarmos a vida a nós, onde nós é que deveríamos fazer o esforço interno para nos adequarmos à vida. Nós corremos o risco de errar, mas a vida nunca erra!
Confira também: