Uma vez eu li um texto que dizia: o equilíbrio não é ficar parado. Na hora uma tonelada de fichas caiu na minha cabeça. Sempre associamos o equilíbrio a algo estático, que não se mexa, mas isso não é verdade.
Quando vemos um artista de circo andando na corda bamba, ele não fica parado. Segurando ou não uma enorme vara, ele pende para a direita e para a esquerda o tempo todo. E é aí que ele se equilibra e consegue atravessar seu desafio. E isso não é fácil. Em vários momentos da nossa vida somos colocados novamente na corda bamba. Precisamos nos reestruturar de uma maneira nova, e isso que é o normal. A tendência é pensarmos coisas como “que droga, começar de novo?” Pois é, mas é a dinâmica. É assim que as coisas são, este é o movimento do estar vivo.
Li recentemente o maravilhoso livro do Nuno Cobra, Semente da Vitória. Confesso que estava empoeirando na minha estante, até que um dia eu recebi o email de uma leitora me lembrando dele. Peguei na hora. Li em 3 dias (e só porque já tinha outros compromissos) e simplesmente adorei. A visão que ele tem da vida é do equilíbrio. Ele fala de regras e exceções, coisa que minha mente controladora (como se existissem mentes não-controladoras) não entende. Eu sempre fui 8 ou 80. Ou eu faço exercícios vigorosos ou não levanto da cadeira. Ou eu trabalho 12 horas por dia, de segunda a domingo, ou não faço mais nada. Coisas do tipo e do gênero que só me custaram demais. Fazendo uma boa análise, percebi que o que me faltou foi o entendimento do equilíbrio, do famoso caminho do meio do zen budismo. Entender que existem regras e exceções.
Entenda por exceções as escorregadas na dieta, o dia da preguiça na corrida, o dia em que nos esquecemos de fazer escova, o dia em que não somos generosos com um amigo. Um dia de fúria, que você está de mal humor. Uma resposta mal dada num teste, uma decisão errada. Um dia que você beija de novo o seu ex e se arrepende amargamente. Ou seja, as coisas humanas que fazemos. Sim, não somos perfeitos. Perfeição é algo inventado pela sociedade capitalista para nos fazer querer ser sempre melhores e melhores e melhores ainda. Não entendemos que já somos a perfeição divina. Somos um espírito que tem um corpo (do qual precisa cuidar), que tem um ego (do qual precisa cuidar), mas que o centro de tudo isso é outra coisa. É uma coisa que transcende tudo: trânsito, educação dos filhos, marido, telefonemas, problemas e tudo mais.
Ela, a alma, é maior do que isso e precisamos manter essa linha de equilíbrio na vida para nunca perder o contato com ela. Eu continuo cambaleando. E adorando o doce movimento que isso me traz, uma delícia de continuidade, de soltura, de gostoso. Não vou ficar parada, rígida, esperando algo explodir. Como me disse a minha irmã engenheira uma vez “só o que balança, não cai” se referindo aqueles movimentos que sempre sentimos em cima de viadutos.
Solte-se no equilíbrio e no movimento. Pare de ter medo disso tudo. Medo de errar, de morrer, de ser você mesmo. Afinal de contas, precisamos de fluído, de vida, de ser e não de estar.
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