No budismo se diz que a felicidade é a capacidade que temos de exercer a nossa liberdade e que o sofrimento está ligado à prisão que criamos com a nossa própria mente. Mas o que vem a ser a prisão e o que vem a ser a liberdade? Quando falamos em prisão, todos nós estamos, em algum nível, presos em fixações de nossa mente. As fixações ocorrem quando limitamos a nossa visão e liberdade. Não é que a liberdade deixou de existir, mas sim que criamos uma prisão sem perceber que estamos nela, e essa prisão pode ser criada por dois vilões, que iremos abordar no decorrer do texto.
Os dois vilões que geram a prisão
O primeiro vilão que gera a prisão é o desejo. O desejo nos prende em coisas que queremos ter e que depositamos a nossa felicidade nessas coisas. Se queremos um carro novo e não conseguimos, a felicidade cede lugar à frustração e logo pensamentos de incapacidade surgem. Segundo os ensinamentos do Lama Padma Santem, o desejo surge da seguinte maneira: o sujeito primeiro compara sua vida com a de outro e vê que aquela pessoa tem condições mais favoráveis do que ele e por ter aquilo deve ser mais feliz. Assim, conclui que por causa dessas condições essa pessoa tem felicidade. O sujeito então começa a buscar as mesmas condições e esse movimento gera o desejo. O desejo de ter algo que não se tem. Esse desejo gera uma expectativa e a pessoa condiciona sua felicidade no alcance desse desejo.
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Ao acontecer isso uma das duas situações ocorre: ou a pessoa não alcança essa situação e sofre por isso, dizendo que seu infortúnio está na falta de determinada condição. Se eu tivesse mais dinheiro, mais oportunidades, etc. Ou a pessoa alcança essa condição e, então, acreditando que sem essa condição sua felicidade será tomada, gera o apego.
O apego é quando lutamos para não perder aquilo que acreditamos ser a fonte de nossa felicidade. Dessa forma, começamos a sofrer para manter as condições necessárias para a felicidade, perdendo a nossa liberdade. Podemos nos apegar às pessoas, às coisas e até mesmo às situações. Acreditamos que a nossa vida só pode ser vivida com essas coisas, mas se por algum motivo essas condições das quais estamos apegados nos faltam, então inevitavelmente estamos em sofrimento.
Mas como podemos ser felizes?
A felicidade está na liberdade de perceber que podemos exercer a felicidade independentemente das coisas e das situações. Nossa mente pode criar a felicidade a partir de nossa conexão com a amplitude da vida. A amplitude da vida é a percepção de que não somos separados do mundo que habitamos. Se ao entrar em uma floresta você não percebe que ela faz parte de você, você acaba vendo apenas mosquitos e cipós e crê que ela não serve para nada. Mas se você amplia sua visão para um olhar mais amplo, onde a natureza não é separada de você, que sem ela sua vida não pode existir, então a floresta passa a ser algo que devemos preservar. Assim, a nossa felicidade não fica ancorada em algo, mas sim em uma visão mais ampla da vida, onde parar para perceber as pequenas coisas da vida, como o amanhecer, o sorriso de quem amamos, a chuva que abastece os rios e o orvalho das plantas, nos estabelece em um sentimento de felicidade. Felicidade é liberdade, sofrimento é prisão.
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