Nossa sociedade está presa em uma armadilha muito eficaz, que converte sonhos em prisões e que não possibilita retirarmos o máximo de nossa experiência humana. Ficamos presos sem notar nessa armadilha e, sem perceber, sabotamos nossa própria felicidade.
Neste texto, quero abrir sua visão para esse ponto e também mostrar as saídas para que não tenhamos nossa felicidade podada por essa falsa promessa de alegria.
Veneno da mente
Podemos dizer que essa armadilha é um veneno de nossa mente, pois envenena nossas relações, nossa alegria e também nossa motivação. Essa armadilha é quando estamos centrados apenas em nós, sem percebermos que, na realidade, somos integrados no ambiente em que estamos. É o autocentramento.
Um dos motivos disso é que vivemos em uma sociedade que prioriza nossa individualidade e que nos motiva a pensar somente em nós mesmos. Um pensamento de “primeiro eu”. Quando estamos centrados em nossas necessidades e desejos, sem olhar para os outros, com um excesso de eu, estamos autocentrados.
Assim nossos desejos e sonhos se tornam foco de um autocentramento. Criamos prisões de sofrimento, pois, se não alcançamos nosso objetivo, iremos sofrer. Agora, se atingimos, teremos que fazer de tudo para mantê-lo, pois nossa felicidade está condicionada ao alcance desse objetivo. Ficamos cegos pelos nossos desejos e sonhos, pois eles são autocentrados em nossa ânsia de satisfação.
Esse excesso de foco em nós mesmos cria uma cegueira. Essa cegueira não deixa que vejamos outras visões e que encontremos outras soluções. Se estamos centrados demais em nós mesmos, não conseguimos ver o cenário, não conseguimos ver as pessoas que necessitam de nós, não conseguimos ver nada além de nossa própria situação.
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Um exemplo do resultado dessa cegueira é a depressão. A depressão é gerada no excesso de eu. Estamos tão focados em nós mesmos e em nosso sofrimento que esquecemos que os outros sofrem. Focados em nossas necessidades e desejos que não olhamos que a felicidade se constrói do que trazemos ao mundo, e não do que pegamos dele.
Não conseguimos ver que existimos na relação com o meio e que, sem ele, não há existência. Mas, se pararmos para olhar, conseguiremos ver que estamos em uma interdependência constante. Não podemos viver sem o ar, sem a água e sem as relações que nos formam, sem a cultura em que estamos inseridos. O mundo é também nossa vida. Somos o mundo, pois, sem, ele não existimos.
Da mesma forma as nossas relações. Se nos fixamos demais em nosso autocentramento, também fixamos os outros e não notamos que todos estão em constante mudança. Não notamos os outros e, por consequência, também sabotamos nossas relações.
Falta de visão integrada
Se nos esquecemos dessa visão de que a vida é integrada, ficamos focados na nossa individualidade, e isso irá nos gerar sofrimento. Teremos a visão de que as coisas são recursos e podemos tomar caminhos que nos geram desconexão com os outros e com o mundo.
Não olhamos para as necessidades das pessoas e olhamos apenas para as nossas, sempre querendo supri-las. Assim, as pessoas se comportam da mesma maneira conosco, e ficamos sempre achando que as pessoas nos querem tirar proveito.
Podemos ser agressivos com os outros, achando que nunca fazem nada para nos ajudar. Quando, na verdade, não estamos olhando de verdade para elas nem entendendo o que realmente buscam.
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Não entendemos que existimos na rede de relações e que, se beneficiamos as pessoas, elas buscam nos beneficiar também. Se temos uma visão integrada do mundo, nosso caminhar fica mais fácil, pois conseguimos integrar nossa vida com os outros.
A sociedade está cada vez mais desintegrada, crendo que precisa cada vez mais pensar em si mesma, em seus desejos e anseios, pouco importando o que o outro pensa e sente. Não se entende que há questões públicas, que não se vive em uma redoma e que é preciso sempre pensar que estamos no contato com o outro. Pensar que o que acontece ao outro também nos afeta.
Vivemos integrados, não estamos no planeta, nós somos o planeta. Não vivemos sem a água, sem os mares, sem as plantas. Assim como não vivemos sem as pessoas, sem os animais. Entendendo isso, podemos ampliar nossa visão.
Precisamos sair do autocentramento, criando visões mais amplas sobre nós mesmos e sobre o mundo que nos cerca. Somente assim sairemos da armadilha que é o excesso de eu.
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